Páginas

Capítulo 6 - MIRANTES


Já era de madrugada em Kittypaw, diversas casas estavam com sacolas cheias de comida, porém em frente a padaria de Massamir tinham mais sacolas do que as outras casas, alguns rebeldes recolheram-as e levaram-as para o subsolo.

- Olha só pessoal, Deus parece ter nos recompensado pela bondade que faremos, olhem! - Disse um dos rebeldes levantando diversas sacolas.


- Levem-as para a cozinha! Vamos usar toda a comida dessa padaria para nosso jantar! - Gargalhou Massamir, fazendo com que os rebeldes ficassem com água na boca.


- Eu ouvi direito, ele disse Deus? - Perguntou Happii, sentado em um caixote.



- Não se assuste - Disse Saadi rindo enquanto verificava as armas - Alguns rebeldes não sabem, mas quem manda essas sacolas é nossa espiã, ela trabalha para o Archibald fazendo algum tipo de robô para ele.

- Robô? Robô para construção ou para destruição? - Perguntou Happii surpreso.


- Isso eu não sei, mas nossa espiã não deixaria nada de mal acontecer.


- Saadi, por que você está aqui? Você saiu de Furball junto com Angyy dizendo que iriam trazer ajuda, pensei que ele estaria aqui com os rebeldes... Onde ele está? - Dizia Happii, porém Saadi continuava a verificar as armas como se não ouvisse nada - Saadi! Você não vai me dizer o que aconteceu com Angyy? Acha isso justo? E se fosse com você? E se fosse você que estivesse perguntando onde ele está e eu não respondesse? Você ia...


- Archibald o pegou quando chegamos aqui em Kittypaw... Ele me salvou... - Falou Saadi de cabeça baixa - Eu tentei o tirar daquela carruagem, mas quando eu a abri não tinha nada, ele simplesmente havia desaparecido...


Happii ficou sem reação, não imaginava que algo assim teria acontecido. Se levantou e foi até a cozinha beber alguma coisa, quando se deparou com um rebelde caindo no chão e tremendo, logo em seguida outro rebelde também reagiu da mesma forma. Happii olhou na sacola para ver o que havia assustado os rebeldes, quando se repara com um papel escrito:



"Archibald sabe sobre o ataque!"

Enquanto isso, no castelo de Archibald.


- Então você é a tal mestra de Deus? - Perguntou Pinchi.


- O que diabos você está fazendo aqui!? E como conseguiu entrar? - Gritava Junko.


- Calma aí! Eu fui tentar capturar esse robô bola e ele me trouxe para cá! - Disse Pinchi.


- Dub! Dub! Mentira, mestra Junko, ele me obrigou a trazê-lo aqui! - Quando Dub terminou de falar, ouviram-se passos se aproximando do quarto.

- Rápido, se esconda em algum lugar! Se te verem aqui vão te prender! - Disse Junko enquanto levantava seu cobertor para ele entrar embaixo.


- Só estou querendo achar os dois idiotas que estavam comigo, apenas isso e... - Antes mesmo de Pinchi terminar de falar, Dub o empurrou pra debaixo da cama.

- O que está acontecendo aqui? Que barulheira foi essa? - Disse Archibald junto de 3 seguranças.

- Não foi nada, estava apenas procurando meu livro, mas esse robô idiota fez a maior bagunça procurando, peço desculpas pelo barulho.

- Dub! Dub! Mestra Junko... De-Desculpe! - Disse Dub que tentou abraçá-la e levou uma chave inglesa na cabeça.




- Puxa ainda bem, achei que era algum rebelde tentando te sequestrar, estou aliviado - Disse Archibald com a mão no peito - Vou deixar um dos meus seguranças de vigia no seu quarto, caso aconteça algo anormal.


" Então esse é o Archibald... Poxa, pensei que ele era mais bruto." - Pensou Pinchi.

- Não precisa se preocupar, eu estou bem.

- Deixe de besteira Junko, segurança nunca é demais! Ainda mais que amanhã haverá um grande ataque rebelde contra mim - Disse Archibald se retirando - Tenha uma boa noite.

- Qualquer problema é só me chamar, estarei aqui do lado de fora do seu quarto - Disse o segurança que logo se retirou.

- Dub, use a fragrância de esquecimento naquele segurança e o traga para dentro.

- Dub! Dub! Mas mestra Junko, eu usei toda a fragrância!

Junko se irrita com Dub e lhe dá mais uma chave inglesa na cabeça.


- Você devia economizar essa fragrância, acha que ela é comprada em qualquer lugar? Robô idiota!

- Desculpe! Desculpe! Dub! Dub! Dub!

Pinchi debaixo da cama estava de braços cruzados ouvindo tudo.
" O que diabos está acontecendo aqui? " - Pensou Pinchi, que logo viu um retrato no chão - " Mas o que é isso? "

Junko então pegou o ultimo lote de fragrância em seu armário e colocou em Dub para usar no segurança, o robô então abriu a porta e disparou a fragrância fazendo o capanga de Archibald cair em sono profundo.

- Pronto, já pode sair, Dub vai te levar para fora. Quanto aos seus amigos, desculpe, mas não posso fazer nada para ajudar - Disse Junko enquanto olhava para Pinchi saindo debaixo da cama com um retrato de uma criança junto com um homem de jaleco branco.

- Eu achei isso aqui embaixo da cama, é você na foto? - Disse Pinchi mostrando o retrato à Junko.

- Eu pensei que tinha perdido, sou eu e meu Pai - Falou Junko enquanto sentava na cama e olhava para o retrato.

- Eu me chamo Pinchi, Pinchi Ishikawa. Eu sei que você não tem a mínima ideia de quem eu sou, mas eu quero saber o que está acontecendo aqui.

- Dub! Dub! Dub! Não confie nele, Mestra Junko! Ele pode ser alguém ruim! Dub! Dub!

- Se ele fosse ruim já teria feito algo... Eu me chamo Junko, Junko Aoki...

Junko explicou as atitudes de Archibald perante a população, dos impostos, as prisões de quem era contra seus princípios e de que tais pessoas eram aprisionados e tinham destino indeterminado. Pinchi ficou calado, não demonstrou nenhuma emoção pelo o que ela disse sobre Archibald.


- Então você se sente culpada por estar com Archibald e é por isso que distribui alimento para todos em Kittypaw?

- É... Pode se dizer que sim...

- E por que aqueles órfãos estavam te chamando de bruxa?

- Isso não vem ao caso...

- De qualquer maneira, você sabe porque Archibald está fazendo essas coisas?


- Na verdade ninguém sabe, ele é uma pessoa ruim, fingiu ser bom a vida toda!


- Isso é estranho... Bem, eu vou perguntar para ele o porquê dele estar fazendo essas tiranias, deve haver algum motivo...


- Tá bom... Espera aí, o que você disse? - Indagou Junko preocupada.

- Vou ir perguntar pro Archibald, onde que é o quarto dele?


- Não, você não pode fazer isso, ele vai te colocar atrás das grades e te mandar pra sei lá onde!


- Bã, depois é só você ir lá e me tirar, mas duvido muito disso, eu sou muito poderoso, ninguém nunca conseguiu me prender! - Disse Pinchi, fazendo poses heróicas - Ah, eu fui preso uma vez, agora que me lembrei...




- Pare de brincar! Acha que isso é uma brincadeira?!?!? Isso é a realidade! Você não deve saber o que é! - Falou Junko agressivamente para Pinchi.


- Bem, pelo jeito vou ter que procurar sozinho. Até mais, Junko - Disse Pinchi saindo do quarto.

- Espere! Eu te levo até ele...


- Pelo visto mudou de ideia.

- Dub! Dub! Mas mestra Junko, isso é muito arriscado... - Disse Dub preocupado. Junko apenas olhou para ele e sorriu.

Em outro quarto do castelo.

Tora está deitado na cama dando diversas gargalhadas - O Maninho está aqui! Eu sinto o cheiro dele! - Gritava Tora que se levantava e logo caia na cama.

- Tora, vai dormir, você já está bêbado demais - Disse Bo que está sentado no chão ao lado de Tora.

- Mas o maninho! O maninho está aqui... Eu tenho que ver se ele conseguiu salvar o bebezinho! - Dizia Tora enquanto tentava se levantar da cama.

- Não se preocupe Tora, ele está bem, ele conseguiu salvá-lo! - Disse Bo.

- Então o Maninho conseguiu! Ainda bem... o Maninho... - Falou Tora que logo dormiu.

- Do que diabos ele estava falando? - Perguntou Dora.

- Não faço ideia...

- Fala sério, esse cara nos colocou em uma jangada furada, Bo! - Disse Dora indignada com a situação em que estavam.

- Como eu ia imaginar que ele iria aceitar trabalhar para o Archibald? Mas também, acho que não tinha como fugir, se ele recusasse iriam nos jogar naquela cela novamente...

- É, isso você tem toda razão, mas eu preferia estar numa cela do que dentro de uma guerra civil, Bo.

- Digo o mesmo... O jeito é ficar perto dele, sempre me falavam que o Grande Ladrão Bêbado é muito poderoso.

- Sim, eu me lembro disso! Naquele tempo você só andava com meleca no nariz! Parecia um retardado! - Falava Dora enquanto apontava o dedo para Bo e ria da cara dele.

- E você com aquele dente quebrado, parecia uma momeniana do roçado! - Falava Bo fazendo o mesmo.




- Ai ai, bons tempos aqueles...

- É, bons tempos...

- Eu estou com medo Bo...

- Eu também, Dora... Eu também...

Enquanto isso, na base dos Rebeldes todos estavam agitados, a grande janta nem era mais pensada, alguns se questionavam se ainda era seguro ficar naquela residência, outros falavam que seria melhor fugir, e o restante achava que a melhor opção seria se render perante Archibald. Massamir estava preocupado, tão preocupado que o pão sobre sua cabeça não parava de se sacudir.

- Todos em silêncio! - O grito de Massamir ecoou por toda residência, todos se calaram em um instante - Nosso inimigo descobriu sobre o nosso ataque, porém não sei como ele fez isso. No entanto, não vamos dar o braço a torcer, tenho toda a certeza de que quando ele ficou sabendo disso se cagou de medo, vocês querem ser uns cagões que nem ele?

- Não senhor! - Gritaram todos.

- Vocês querem ver Archibald cair?

- Sim senhor! - Gritaram.

- Então não vamos desanimar, a vitória está próxima, não deixem que o medo embace nossos objetivos! Eu já possuo uma nova estratégia, vamos acabar com a raça de Archibald de uma vez por todas! - Gritou Massamir motivando todos os rebeldes voltando para suas funções que haviam largado pelo pânico.




- Puxa, Massamir sabe realmente como lidar com esse tipo de situação - Falou Happii para Saadi - Eu, no lugar dele, não saberia o que fazer.

- Bastante. Eu já venho Happii, preciso falar com ele, se quiser pode ir organizando as armas - Falou Saadi que logo foi até a sala onde Archibald se encontrava.

" Porque eu tenho que ficar tocando nisso, já tenho que carregar aquela arma que o Tora me deu daquele waruiano... Realmente odeio armas " - Pensou Happii enquanto as organizava.


O tempo passou e nada de Saadi retornar, então Happii resolveu ir ele mesmo até a sala. Quando se aproximou conseguiu ouvir algo, parecia que alguém estava chorando lá dentro. Resolveu então bater na porta para que pudesse entrar, foi aí que Saadi abriu a porta.

- Happii, mandei você ficar lá, o que diabos quer aqui!?

- Eu não gosto de ficar pegando em armas, você sabe disso.

- Tá, que seja, vá procurar outra coisa para fazer, eu estou ocupado.

- E-eu posso ajudar, Saadi, qual é o problema?

- Não é nada demais, não se preocupe Happii - Disse Saadi olhando para baixo.

- Mentiroso, eu te conheço Saadi. Quando você fica olhando para baixo quando fala comigo, é porque está mentindo! Você sabe que eu posso ajudar.

Saadi ficou encarando Happii friamente e então disferiu uma única palavra "Droga". Permitiu a entrada de Happii na sala. Quando entrou viu Massamir chorando, estava com o mapa de Kittypaw na mesa e com as mãos sobre o rosto, o pão sobre sua cabeça se mexia mais do que antes.

- Nós não sabemos o que fazer, Happii... - Disse Saadi.

- O que?! O que diabos o Neto de Wook está fazendo aqui!? Saia já dessa sala garoto! - Disse Massamir furioso.

- T-Tá, d-de-desculpe! - Disse Happii apavorado saindo da sala.

- Calminha aí - Disse Saadi segurando Happii pela mochila - Massamir, sei que você tem todo o seu orgulho por suas conquistas, mas está na hora de deixar isso de lado.

- O que diabos está querendo dizer Saadi? Quer que coloque meu exército nas mãos desse garotinho? É isso?

- Sim, sei que parece loucura, mas graças a esse "garotinho" que mais da metade dos momenianos do meu vilarejo foram salvos, e ninguém ficou ferido - Disse Saadi seriamente.

- Err... Não precisa falar assim... - Disse Happii com bastante vergonha.

- Besteira! Eu não vou deixar meu exército nas mãos de um garotinho! Jamais! Agora saiam daqui! - Gritou Massamir.

- É uma pena... Pensei que queria ver Archibald cair... Vamos embora Happii.

- Esperem! Tudo bem, tudo bem, eu quero ver o que esse garoto tem a dizer, espero que não tome meu tempo precioso... - Disse Massamir desconfiado.

- Err... Bem... Eu já tinha uma coisa em mente. Vou explicar para o senhor, mas primeiro eu quero que diga qual era o seu plano... - Disse Happii sorrindo.


Enquanto isso Junko e Dub levam Pinchi até o quarto de Archibald.




- Eu pensava que o quarto dele era no topo do castelo, mas pelo jeito é nos fundos! - Disse Pinchi para Junko.

- Dub! Dub! Dub! Eu também achava isso! Aliás é a primeira vez que vou até o quarto de Archibald! Dub! Dub! Tomara que ele fique impressionado com minhas hélices!

- Archibald não é bobo, todo mundo sabe que os líderes ficam nos quartos mais espaçosos, ele por outro lado fica no quarto mais imprevisível - Falou Junko.


- Imprevisível? Pra mim seria imprevisível se houvesse um peixe no quarto - Disse Pinchi pensativo.

- Tem um peixe lá dentro... - Disse Junko.

- Tá de brincadeira né?

- Não, estou falando sério.

- Agora eu estou mais curioso em ver o peixe.

- Eu também! Dub! Dub! Dub!

Caminharam até os fundos do castelo, e encontraram um portão de ferro branco com uma vidraça e um botão ao lado.

- Chegamos, ele está ai dentro, eu irei ficar de vigia aqui fora, caso algum segurança apareça, certo? - Disse Junko.

- Tudo bem - Disse Pinchi já entrando no quarto - Ué, está escuro aqui dentro, tem certeza que ele está aqui? Não consigo sentir a presença de nad...

Antes de Pinchi terminar a frase, Junko o tranca dentro do quarto e pressiona o botão ao lado da porta.

- O que diabos está fazendo? Ei, abra essa porta!!! -Dizia Pinchi puxando a porta enquanto as luzes se ascendiam no local.

- Escute aqui seu idiota, não consigo acreditar que você caiu nessa cilada, você realmente é mais burro do que eu imaginava... Estou decepcionada - Disse Junko enquanto olhava pela vidraça do portão de ferro.

- Eu confiei em você!

- Eu não tive escolha! Eu não vou deixar você estragar minha vingança! - Disse Junko enquanto caminhava de volta para seu quarto - Ah, já ia me esquecendo de um detalhe, se você tentar usar a força física nesse quarto ele irá explodir, o botão ao lado libera um gás letal que quando se é deparado com algum tipo de impacto, ele entra em combustão, ou seja, sugiro que você caminhe levemente se quiser continuar inteiro aí dentro.

Pinchi só ficou observando Junko indo embora pela vidraça, pouco a pouco ela ia sumindo na escuridão e os sons dos seus passos diminuíam até sobrar o silencio absoluto, até que...




- Dub! Dub! Que peixe magnífico! - Disse Dub olhando para cima.

- Que diabos você está faz... Peixe? Onde!?!? - Disse Pinchi que logo olhou para o teto babando, e viu um desenho de um peixe em forma poligonal.

Pinchi apenas se sentou no canto da porta e sua barriga começou a roncar.

- Dub! Dub! O que foi? Não gostou do Sr. Peixe? - Disse Dub um tanto preocupado.

- Bã, eu esperava algo comestível...

- Entendi... Dub! Dub! Cadê a Mestra Junko? Mestra Junko? - Disse Dub rodando pelo quarto onde só havia uma escrivaninha, lâmpada na parede e um peixe poligonal desenhado no teto - Dub! Dub! Ela foi pegar alguma coisa?

- Sim, ela foi pegar uma coisa, não tem que se preocupar, certo?

- Dub! Dub! Que bom, por um momento achei que ela tinha me abandonado! Mestra Junko nunca faria isso! Dub! Dub! Eu amo a Mestra Junko! Dub! Dub!

Pinchi apenas ficou observando calado, e notou como a verdade pode ser desagradável até mesmo para uma criatura que não tem vida, e como às vezes uma simples mentira, por mais que seja errado fazer, pode ser de grande alivio para aqueles que carregam dúvidas em seus corações sofridos.

- Mestra Junko! Mestra Junko! Mestra Junko!

- Cala boca! - Gritou Pinchi.

- Dub! Dub! Me desculpe!





(Continua...)

2 comentários: