Após a revelação bombástica de Archibald todos
ficaram pasmos, só ouvia-se a mastigação de Mochi enquanto comia as diversas
frutas.
Até que ele engoliu e um silêncio pairou no local.
Ninguém tinha coragem de dizer nada, mas Pinchi decidiu quebrá-lo.
- Esse pão na sua cabeça, ele é comestível? -
Perguntou Pinchi para Massamir.
Naquele momento, toda a atenção foi voltada a
Massamir e ao pão em sua cabeça. Até mesmo o waruiano que estava amarrado
reparou e ficou encarando-o, tentando desvendar se era ou não
comestível.
- NÃO É HORA PARA PALHAÇADA, SEU IDIOTA! - Gritou
Junko furiosa para Pinchi - ARCHIBALD, O QUE VOCÊ ESTÁ QUERENDO DIZER COM
ISSO!?
- Massamir, Stella e principalmente você, Junko,
não importa o que eu falar agora, vocês irão me odiar pelo resto da vida, e não
vou ficar chateado com isso. Na verdade, se cada cidadão de Kittypaw me odiar,
eu não terei motivo algum para ficar chateado, pois sinto remorso pelo que fiz e
tenho como obrigação pagar pelos meus pecados - Falava Massamir enquanto seus
olhos enchiam de lágrimas.
Ichiban ficou tocado pela confissão do velho momeniano.
Para ele, momenianos não choravam e nem mesmo sentiam remorsos do que faziam.
- Seja lá o que for, Archibald, é melhor ficar com
os dentes serrados, não sei a hora que perderei o controle. Aposto que tem algo
haver com meu filho Fermo - Continuou Massamir enquanto o pão sobre sua cabeça
se remexia mais do que nunca.
- O QUE VOCÊ FEZ COM MEU FILHO FERMO!? - Gritou
Stella angustiada.
- MAS POR QUE EU VOU FICAR COM ÓDIO DE VOCÊ!? O QUE
VOCÊ FEZ, ARCHIBALD?! - Gritava a momeniana nervosa, perto de chorar.
- Eu irei contar a verdadeira história por trás
deste lugar que eu chamo de "Paraíso Kittypaw". Isso tudo começou
quando você ainda era apenas uma criança, Junko...
Seis anos atrás...
Kittypaw não possuía muralhas de madeira e muito menos era infestada de guardas. Era um vilarejo pacato, onde todos os habitantes admiravam seu prefeito, Archibald, um grande aventureiro que já havia percorrido grande parte do planeta. A paixão era tanta que os arquitetos do vilarejo fizeram duas estátuas em sua homenagem.
Mesmo com a tragédia da morte do Rei Mighty e o
início da segunda grande guerra contra Waruiom, o vilarejo não perdeu seu foco e continuou a executar as velhas tarefas. A maioria dos jovens foi convocada pela
guarda real, a fim de ajudar no combate contra o inimigo, deixando famílias
desamparadas pelo desespero causado pela guerra e da retirada de um ente querido
de seu lar. Mesmo em meio a tanto sofrimento, Kittypaw
ainda tinha um raio de luz que pairava sobre vilarejo.
Uma garotinha com uma sacola em mãos corria por
entre as casas da vila. Com um sorriso preenchido em seu rosto, ela corria
ofegante em direção ao castelo. Os cidadãos que passavam pela região observavam a garota enquanto ela gritava.
- Nasceu! Nasceu! Anúbia nasceu! - Gritava Junko
correndo.
Junko tinha 10 anos de idade e havia terminado de
presenciar o nascimento de Anúbia. Corria o mais depressa possível para
chegar ao castelo. Não demorou muito até que ela o invadiu, se
deparando com Archibald.
- Junko! Quantas vezes eu vou ter de te dizer para
não correr nos corredores do castelo!? - Gritou o prefeito.
- Desculpe, Archibald! Mas meu pai deve estar
morrendo de fome e aliás, Anúbia acabou de nascer! - Gritou Junko enquanto
entrava pela porta embaixo das escadas.
- Nasceu? Que maravilha! Preciso levar um presente
para Serina! - Disse Archibald para si mesmo.
Junko desceu as escadas do subsolo e seguiu pelo
corredor até chegar em uma sala com porta de ferro. Bateu cinco vezes com ritmos
diferentes e a porta se abriu, revelando uma sombra adulta.
- Você demorou, Junko. Por onde andou? - Respondeu
Daichi, pegando a sacola da mão de Junko, retirando um pote de macarrão
instantâneo de dentro e colocando-o para esquentar em uma de suas engenhocas.
- É que eu fiquei esperando a Anúbia nascer do ovo,
pai. Ela é tão fofinha! - Respondeu Junko, fazendo seu pai quase derrubar seu
pote de macarrão instantâneo.
- Ela já nasceu? - Perguntou Daichi, que foi
respondido com um sinal positivo por sua filha - Realmente, não me dei conta de
quanto tempo estou aqui neste subsolo.
- Então porque a gente não sai daqui, pai? Eu odeio
esse lugar; é frio, escuro e me dá muito medo de noite.
- Junko, já falamos sobre isso antes - Respondeu
Daichi, arrumando seus óculos.
- É só porque você não quer ir para a Guarda Real?
- Exatamente - Disse seu pai enquanto terminava de
preparar seu macarrão instantâneo.
- Mas se você construísse uma arma poderosa o
suficiente, poderia acabar com todos esse waruianos - Disse Junko.
- Junko...
- Você se tornaria um grande cientista! Não, na
verdade, se tornaria um grande herói! Salvaria inúmeras vidas e… - disse a
menina se exaltando.
Naquele momento, Daichi derrubou seu macarrão
instantâneo, seguindo de um tapa no rosto de Junko. A garota momeniana nunca
havia sentido sua bochecha arder tanto. O impacto foi tão grande que ela ficou
sem reação.
- E qual vai ser meu beneficio tirando uma vida
para salvar outra? - Perguntou para Junko que se mantinha pálida.
- Ma-mas e se você tivesse que matar alguém para me
salvar!?
- Então eu iria morrer tentando salvá-la.
Junko encheu os pulmões de ar. Lágrimas começaram
a escorrer sobre seu rosto.
- ENTÃO QUE MORRA, JÁ QUE NÃO QUER VIVER COMIGO! - Gritou
Junko, saindo da sala e correndo pelo corredor escuro.
Daichi apenas se ajoelhou e começou a limpar o
macarrão que havia derrubado quando se deparou com Archibald perto da
porta
- Você ouviu tudo, não foi? - Disse o cientista.
- Acabei ouvindo, mas eu concordo com a sua filha, Sr.
Aoki. Ficar três anos no subsolo desse castelo não irá te levar a lugar
algum... Deveria sair mais vezes - Disse Archibald enquanto o ajudava a limpar
o chão.
- Não quero correr o risco da Guarda
Real me encontrar. Você já está fazendo muito nos acolhendo neste
castelo - Respondeu Daichi.
- Bom, você quem sabe. Amanhã irei visitar Serina,
se quiser vir comigo visitá-la...
- Pensarei sobre o assunto. Agora, se puder me
dar licença, tenho tarefas para resolver - Disse Daichi, pegando outro macarrão
instantâneo e colocando para esquentar novamente.
Archibald apenas suspirou fundo e saiu da sala.
Após isso, Daichi retirou o quadro que fica no teto, pegando um caderno com a
sigla "DEFENSOR XYZ" em sua capa. Ele continha informações para
criação de um robô, cujo objetivo era defender a população de uma possível
ameaça.
"Então finalmente este dia chegou... Foi mais
cedo do que eu imaginava", pensou o
Sr. Aoki enquanto arrumava seus óculos.
Junko agora estava no quintal do castelo sentada à uma sombra de árvore, soluçando. Até que um jovem padeiro que por ali passava de
bicicleta viu a tristeza de garotinha e se aproximou dela, entregando-lhe um
pedaço de pão doce.
- Eu não sei o que houve, mas estou te dando de
presente - Disse o jovem com um pão francês sobre a testa.
- Fermo... Obrigada... - Antes que ela pudesse
pegar o pão doce, ele o tirou da sua frente.
- Só vai ter esse pão se me ajudar a vender os
pães! - Disse ele sorrindo - E então? Vai me ajudar ou ficar
choramingando o miolo perdido?
- Só se você me deixar pedalar! - Disse Junko que
já não parecia magoada como antes.
- Tá certo, só não vai cair que nem na semana
passada. Sujou todo o meu cabelo naquele dia, tive que lavar duas vezes para
sair a lama. DUAS VEZES! - Respondeu o jovem padeiro.
Archibald estava na janela do castelo e avistou as
duas crianças fazendo o trabalho se tornar um divertimento, algo que era raro
naquela época.
"Como a preocupação dos jovens são limitadas
hoje em dia... Que inveja", pensou o
prefeito.
Já de tarde, depois de entregar os pães junto com
Fermo, e de ter os joelhos arranhados após uma queda de bicicleta, Junko não
sabia como iria encarar seu pai. Tinha receio do que poderia ocorrer; estava
com medo de que ele a odiasse.
Foi com esse medo que ela chegou até o "Poço
da Sorte". Puxou uma das moedas de nixel que Fermo havia lhe dado por
tê-lo ajudado com o serviço, depositando toda sua sorte nela, na espera de que seu pai a perdoasse.
Quando chegou no castelo, já estava escurecendo. Desceu
as escadas lentamente e viu uma grande movimentação vinda do laboratório.
Quando Junko abriu a porta, avistou seu pai desenhando algo em uma folha.
- Você demorou para chegar, eu já iria construir
isso sem você por perto.
- E qual foi o motivo de você não construir?
- Tenho um bom motivo para isso, pois hoje eu irei
lhe ensinar tudo o que sei, minha filha.
- Tudo o que sabe sobre construir? Está falando
daquelas engenhocas que você faz?
- Exatamente. A arte de dar vida a seres
inanimados, fazer um conjunto de materiais se tornar algo funcional!
- Mas parece ser chato...
- É chato porque você nunca tentou - Falou Daichi, arrumando seus óculos - Se você conseguir construir esse robô do desenho, eu
saio do castelo com você e ainda paramos para comprar um sorvete.
Em um piscar de olhos, Junko já estava ao
lado de seu pai, analisando o desenho do robô. Pouco a pouco foram vasculhando
peça por peça pelo laboratório, no objetivo de encontrar a que se encaixaria
melhor para o robô.
Seu pai a guiava para o caminho certo, mostrando os
erros que ela havia cometido. Para sua surpresa, Junko demonstrava um
conhecimento muito superior do que a maioria dos outros momenianos de sua
idade, até mesmo para os adultos da idade de Daichi. A pequena momeniana
não cometia o mesmo erro duas vezes quando o assunto era na área da robótica.
Com o passar do tempo, o relacionamento de pai e
filha nunca havia se tornado tão próximo quanto como naquele momento. Os dois
nunca haviam feito algo em conjunto antes, pois quando Junko acordava, Daichi
estava indo para cama depois de elaborar diversas pesquisas. Na maioria das
vezes, quando Junko ia dormir, Daichi estava começando sua rotina referente as
pesquisas. Não existia um laço muito grande de pai e filha.
Quando Daichi percebeu, ele não estava ensinando
mais nada à sua filha. Ela praticamente pegava o relatório e executava as
tarefas necessárias impostas pelo pai.
" Ela possui um dom muito maior que o meu para
robótica... Minha filha praticamente nasceu para fazer isso... " - Pensou o Sr. Aoki com um enorme sorriso no rosto.
Já estava no meio da madrugada quando Junko
finalmente terminou de construir seu robô.
- Co-Consegui terminar! Pai, eu consegui! - Gritava
Junko com o robô em mãos.
- Puxa vida, eu pensei que você levaria pelo menos
uma semana para terminá-lo - Disse Daichi, arrumando os óculos e ligando a máquina
- Agora faça como eu te ensinei antes.
Junko se colocou na frente do robô e então falou:
- Eu te criei! Eu sou sua mestra! Mestra Junko!
Você deve me obedecer e me fazer feliz! Entendeu?
O Robô continuou encarando-a até que disse suas
primeiras palavras:
- Me... Mestra Junko!
Aquelas palavras encheram de emoção o rosto de
Junko, pois ela tinha feito o robô criar vida, mas mais do que isto, algo ainda
mais encheu seu coração - ELE É TÃO FOFINHO PAI! - Gritou Junko pulando de
alegria.
- Bom, agora você pode dar um nome para ele - Falou
Daichi enquanto dava tapinhas nas costa de sua filha.
- Nome? Eu posso dar um nome pro robô?? - Perguntou
Junko animada enquanto observava o robô que a encarava.
- Claro que pode, afinal, foi você que o construiu,
não foi?
- Ele vai se chamar Dub! Seu nome é Dub! Dub! Dub!
Dub! - Gritou Junko erguendo o robô pelos braços.
- Dub? O que diabos significa Dub? - Perguntou o
cientista curioso.
- Dia único e belo! - Respondeu Junko contente.
- DUB! DUB! DUB! MESTRA JUNKO! - Falava Dub sem
parar.
- Parece que temos um tagarela - Disse Daichi, vasculhando
suas engenhocas até encontrar uma câmera fotográfica - Encontrei!
- O que é isso, pai? - Dizia Junko que parecia
nunca ter visto algo parecido.
- É uma câmera, era da sua... Tanto faz, vamos
tirar uma foto para registrar esse momento juntos! - Disse Daichi, colocando-a
sobre a mesa e correndo para fazer pose junto com Junko e Dub.
A foto foi revelada poucos segundos depois de bater
a fotografia. Foi colocada em uma moldura improvisada por Daichi e deixada em
cima da mesa.
Pai e filha olharam um para a cara do outro e
começaram a rir. Riram tanto que caíram exaustos sobre o chão no meio de fios e
equipamentos. E então tiveram a única noite de sono juntos, deitados um ao lado
do outro como uma família.
(Continua...)
Flashbacks!
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