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Capítulo 21 - A história obscura do Paraíso Kittypaw (Parte 2)


Já era de manhã em Kittypaw, e a velha rotina se repetia na cidade. Archibald já estava pronto para o dia e foi até o subsolo do castelo ao encontro de Daichi. Chegando lá se deparou com um amontoado de peças e bugigangas espalhados por todo o laboratório. O cientista estava em pé observando atentamente o robô recém-construído, que mal percebeu a chegada de Archibald. Folhava algumas páginas de seu caderno enquanto esbanjava um sorriso.

- Parece que você ficou a noite toda se divertindo aqui embaixo - Disse Archibald enquanto olhava assustado para a quantidade de objetos espalhados.



Daichi tomou um susto e rapidamente escondeu seu caderno em uma das gavetas.


- Hã!? Ah! Sim!  - Disse o cientista assustado. - Mas quem realmente fez a diversão toda foi a Junko, veja só o que ela construiu - Completou Daichi exibindo Dub.

- Dub! Dub! Dub! Mestra Junko me construiu! Dub! Dub! - Disse Dub.

- Não esperaria menos de sua filha, Daichi, vim até aqui avisar que estou indo visitar Serina... Você vai vir comigo?

- Não... Não posso ir visitá-la... Se eu for lá fora...

- Deixa de besteira! Não tem ninguém lá fora, pai! - Falou Junko ainda sonolenta.
- Você agora tem a mim... Eu vou te ajudar nos seus projetos e... também vou... - Completou a jovem, voltando a dormir em meio a bagunça.

Archibald deu uma leve risada.
 - Parece que agora você tem uma assistente, quem diria que o cientista solitário Daichi teria uma.

- Posso ter quantos assistentes forem, eu não irei sair daqui... - Falava Daichi enquanto pegava Junko no colo e caminhava até o sofá laboratório. - Você sabe dos riscos de me expor lá fora, se me acontecer algo quem vai cuidar dela? - Completou o cientista colocando sua filha adormecida sobre o confortável sofá.

- Daichi, se for viver de probabilidades, você nem mesmo conseguirá se levantar da cama... - Disse o prefeito enquanto observava Dub de perto.

- É inútil, você sabe muito bem que quando boto uma coisa na cabeça não há nada que possa tirar - Disse o cientista enquanto enchia uma xícara de chá. 

- Vai ter bolo - Disse Archibald.

Algum tempo depois Archibald saía do castelo junto com Daichi que vestia roupas largas e um capuz. Uma visão um pouco perturbadora para os cidadãos que Kittypaw. Crianças corriam de medo ao ver as vestimentas do cientista. Daichi olhava para todos os lados para cada passo dado, analisando tudo o que estava ao seu arredor, o que fazia Archibald rir ainda mais da situação. 


Chegaram até a casa de Serina onde foram muito bem recebidos. Massamir, Stella, Fermo e alguns outros cidadãos já estavam na residência em com presentes para a nova mãe. 

- Archibald! Meu querido amigo, como você está!? - Gritou Massamir cumprimentando o prefeito.

- Bom alguns probleminhas ali, e outros aqui como sempre - Disse Archibald sorrindo.

- Esse senhor... Não me diga que é você, Daichi!? - Perguntou Stella e todos os que estavam ali se direcionaram seu olhar para o senhor encapuzado e de vestimentas largas.

- S-Sim, eu vim pelo bolo... - Disse Daichi envergonhado.

- Bolo? O senhor fez bolo, pai ?! - Disse Fermo babando enquanto brincava com um grupo de crianças.

- Que eu saiba não... - Respondeu Massamir enquanto o pão da sua cabeça se mexia.

Daichi fez uma cara furiosa para Archibald que foi respondida apenas com uma careta do próprio.

- Vamos, vamos Daichi, temos que entregar os presentes para Serina - Disse Archibald o empurrando para até a sala onde se encontrava Serina.

Daichi não tinha se preparado para se encontrar com Serina, não sabia o que dizer, nem o que fazer, nem mesmo havia comprado um presente. Chegando onde a dona da casa estava, Massamir deu um forte abraço carinhoso, lhe entregando uma sacola embrulhada, eram roupas para a recém-nascida.

Serina tinha cabelos ondulados e loiros, era uma historiadora. Seu esposo acabará de ser convocado pela Guarda Real para a batalha contra a raça Waruiana. Ela era amiga de infância de Daichi, e também o seu primeiro amor.


- Olha só quem resolveu sair da caverna, é você mesmo, Daichi ? - Disse Serina dando leves cotoveladas no peito do cientista.

- Sim, meus parabéns pelo bebê - Disse o Cientista um tanto encabulado. Começou a revirar seus bolsos até encontrou uma chave inglesa. - Aqui está o presente - Completou Daichi.

A momeniana foi tomada por um forte ataque de risos ao receber a chave inglesa.
 - Essa já é a quinta chave inglesa que você me dá, obrigada - Disse Serina lhe dando um abraço carinhoso que fez o cientista ficar sem reação.

- Bom, eu preciso ir agora, tenho muito projetos a serem realizados ainda - Dizia Daichi enquanto se despedia de Serina e dos outros que estavam ali com um aceno.

Foi quando Archibald colocou uma de suas mãos no ombro de Daichi.
- Espere, o motivo de estarmos aqui não é só pelo nascimento de Anubia.

- Na verdade, Daichi, estamos tentando melhorar a segurança da cidade, não sabemos o quanto pode durar essa guerra, precisamos fazer algo por nossa conta sem depender dos outros! - Falou Serina.

- Está mais do que certa, Serina, a Guarda Real não se dá ao luxo de olhar para uma cidade pequena como a nossa - Disse Archibald concordando com a cabeça.

O cientista começou a rir por um momento - Então foi pra isso que você estava tentando me arrancar do castelo, Archibald? Quer que construa algo para você?

- Não é só para mim, Daichi, é para todos, você deve ter percebido o quanto esta cidade está insegura quando veio pra cá, não foi ? - Disse Archibald olhando seriamente para Daichi.

Daichi queria não acreditar no que Archibald estava dizendo, mas era a pura verdade. Os habitantes pareciam não ter uma boa noite de sono na região há meses. Estavam com medo, medo do que lhes podia acontecer a qualquer momento.

- Nós queremos proteger nossos filhos, desejamos o melhor para eles, todos aqui concordam comigo - Disse Serina onde os diversos momenianos que estavam ali concordaram com ela.

- Vocês realmente querem que a cidade fique segura? - Perguntou o cientista, e todos na sala assentiram com a cabeça. - Eu já havia planejado algo para a chegada deste dia. Na verdade, desde o dia que eu vim para cá eu já tinha pensado em algo, mas vocês recusariam. Não tinham a perseverança de agora - Completou Daichi enquanto arrumava seus óculos.

Na outro dia uma audiência foi realizada por Archibald e Daichi no interior do castelo. Daichi apresentou a todos a planta de seu projeto, consistia em uma grande muralha ao arredor da cidade e um sistema de guardas, no qual se dividiriam por toda região.



Todos ficaram ansiosos com o projeto, mas o único problema seria o financiamento para sustentar a quantidade de serviços e a construção da muralha em si.

Archibald então propôs uma taxa a ser cobrada para cada cidadão de Kittypaw, que seria usada para o serviço de segurança. E com relação a construção da muralha, Massamir tinha um grande amigo em Furball que adoraria participar deste projeto. Daichi então estipulou um prazo de seis meses para a conclusão da muralha

Com o passar dos dias, a muralha foi pouco a pouco sendo erguida, nunca se tinha visto uma cidade tão unida antes, donas de casa faziam o almoço para os operários, operários ensinavam as crianças sobre técnicas de construção, que botavam em prática.

Daichi permanecia no subsolo do castelo construindo sua engenhocas, só se comprometia em sair quando havia questões duvidosas sobre o projeto, no qual era analisado para maior eficiência e eficácia do mesmo.

E então em um piscar de olhos se passaram os seis meses. A muralha havia sido terminada e houve uma grande festa em toda a cidade de Kittypaw. Não havia um habitante que não tinha colaborado com a construção.

A grande parte dos operários se ofereceu para ser guardas, pois sabiam do enorme esforço exercido para construção da muralha.

Crianças brincavam e se deliciavam com a grande quantidade de comida na festa, enquanto os mais velhos esvaziavam mais e mais garrafas de catnipom. Todos estavam felizes com o resultado final do projeto. Porém, havia alguém que não estava presente.

- Junko, o seu pai não vai vir? - Perguntou Serina, que estava com Anubia no colo.

- Não, ele esta ocupado organizando o laboratório, ele parecia bem contente - Dizia Junko enquanto tomava sorvete e era carregada por Fermo.

- Seu pai arrumando o laboratório? Archibald me disse que ele nunca havia se preocupado em arrumar antes - Disse Fermo.

- Ele disse que estava arrumando para mim - Respondeu Junko, derramando um pouco de sorvete no cabelo de Fermo que o deixou louco de raiva.




Enquanto isso, no subsolo do castelo, Daichi arrumava o laboratório, em meio a poeira e a sujeira, ele limpava cada centímetro dali. Foi então que ele foi surpreendido pela chegada de Junko.

- Pai, tem certeza que você não quer participar da festa? - Disse Junko enquanto se aproximava de Dub.

- Tem bolo? - Perguntou o cientista.

- Não, mas tem sorvete e churrasco - Respondeu sua filha enquanto mexia nas hélices de seu robô.

- Talvez depois eu vá.

- Pai, por que você resolveu arrumar o laboratório justo hoje? - Perguntou a garota, curiosa.

- Porque vai ser seu a partir de amanhã, considere isso como um presente - Disse o cientista pegando o retrato e colocando em cima da mesa.

- Mas o senhor vai fazer suas engenhocas onde? - Perguntou Junko enquanto bocejava e se sentava no sofá.

- Seu velho pai não tem mais criatividade para fazer engenhocas, por isso estou deixando essa tarefa para você - Disse o cientista a cobrindo com seu jaleco. - Tenha uma boa noite Junko, pa-papai te ama - Completou dando um carinhoso beijo na testa de sua filha.

- Também te amo, papai - Disse Junko, que logo dormiu exausta de tanto festejar.

Daichi permaneceu um tempo olhando sua filha dormindo, até que se levantou e pegou uma das bolsas que estavam jogadas no chão, se dirigiu até a mesa aonde estava Dub e o ligou.





- Dub, esta vai ser minha última ordem, faça a Mestra Junko feliz - Disse o cientista olhando seriamente para o robô e logo se retirou.

- Dub! Dub! Dub! Sim, Mestre Daichi!  Dub! Dub! - Disse o robô que logo entrou em stand-by.


Daichi estava prestes a sair do castelo quando se deparou com Archibald.

- Vai ir embora sem se despedir do seu velho amigo ? - Disse o prefeito enquanto segurava uma garrafa de catnipom quase vazia.

- Eu não sou muito fã de despedidas, tome conta da Junko até eu voltar.

- Pra onde você vai ? Agora que a cidade está segura você resolve ir embora!? - Perguntava o prefeito irritado.

- Eu ainda não sei pra onde eu vou, qual a cidade mais próxima daqui? - Perguntou o cientista.

- Cauldron's Fruit, fica a seis horas daqui, o que diabos vai fazer lá ? - Perguntou Archibald, terminando de tomar a bebida.

- Vou fazer o mesmo que fiz aqui, uma muralha, e depois irei para outra cidade e farei o mesmo, e também na outra, e assim por diante.

- Ora, o que aconteceu com aquele seu medo pela guarda real ?

Naquele momento Daichi apenas sorriu. Partiu dali dizendo:
- Qualquer arma que eu fizer a partir de agora será inútil em mãos assassinas, não tenho mais com que me preocupar.

Archibald apenas o observava tentando decifrar o que aquilo significava, mas não conseguiu pensar em nada relevante. Decidiu então acompanhá-lo até a fronteira de Kittypaw.

Enquanto passavam pela festa, diversos habitantes vinham cumprimentá-lo pela segurança estabelecida na região. Daichi agradecia pelo carinho de todos e continuava seguindo em frente. Procurou por Serina em cada canto da cidade e não a encontrou.
Até que eles chegaram à entrada da muralha. Daichi se despediu de todos e disse que voltaria em breve e então cumprimentou o prefeito.

- Archibald, se as coisas parecerem feias, olhe os quadros do laboratório - Disse o cientista se retirando.

Era de noite e estava escuro quando ele começou a se distanciar de Kittypaw, não conseguia enxergar nada a sua frente, foi então que abriu uma de suas bagagens e retirou uma lanterna. Quando a ligou teve um susto, Serina estava logo a sua frente.




- SE-SERINA!!??!  - Gritou o cientista assustado.

- Daichi!? Você também veio brincar com a criança? - Disse ela rindo.

- Brincar? Vocês estão brincando em um lugar desses!? Vocês enlouqueceram? - Perguntava Daichi, sem sequer acreditar em tamanha burrice.


- Ah, qual é o problema? Ele me desafiou! - Dizia Serina soluçando e nervosa.

- Você está bêbada! E ninguém veio pra fora da muralha além de mim, qual é essa tal criança que você esta falando ? - Dizia o cientista preocupado.

- É uma criança adorável! Eu nunca tinha a vista na cidade antes! - Dizia Serinha que abraçava o braço de Daichi, levando- em uma direção da floresta.

Daichi, tomado pela curiosidade, decidiu segui-la, a lanterna começou a falhar e foi tomado pela escuridão da floresta. Não se sabia como, mas Serina continuava a caminhar como se soubesse aonde estava indo.

Sons de um sino começou a ecoar pela floresta, seguido de um chamado.

- Você não vai me encontrar?! Eu estou ficando com medo de estar sozinho! - Falava uma voz com cerca de 5 anos, seu tom de voz era choroso.

Ambos apressaram o passo, Daichi já conseguia ver ondulações na escuridão, ajudando-o a não tropeçar em pedras e esbarrar em árvores. O barulho dos sinos estavam aumentavam a cada passo e de repente Serina parou.

- Te encontramos! Agora vamos voltar para o vilarejo! – Dizia Serina ofegante. – Viu, ele não é bonitinho Daichi? – Completou a momeniana.

Daichi naquele momento congelou de medo, não conseguia expressar nenhuma reação. Pois o que estava logo a sua frente era um Waruiano.



(Continua...)


Um comentário:

  1. Hmm...
    Me pergunto qual a situação do resto do planeta,há vários vilarejos destruídos?
    Os Waruianos tem controle de alguma cidade ou só vivem no seu planeta?
    Os Momenianos tem algum tipo de "base principal"?

    Encontrar um inimigo assim que sair da muralha? O pai da Junko tem um azar terrível, capaz dele se sacrificar pra salvar a Serina

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