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Capítulo 22 - A história obscura do Paraíso Kittypaw (Parte 3)


- Parabéns! Vocês me encontraram! Venceram o desafio! Agora, venham buscar suas recompensas - Dizia o velho waruiano com a sua voz de criança enquanto chamava-os com a mão.

- Recompensa?! Não sabia que ia ganhar uma recompensa! - Dizia Serina indo em direção ao velho waruiano.

- Sim, eu vou te mostrar onde é minha casa! Venha comigo! 

Daichi estava paralisado, não podia imaginar que tamanha presença inimiga estava tão próxima do vilarejo. Antes que Serina pudesse dar mais um passo em direção a criatura, Daichi a agarrou pelo braço e a puxou para trás.

- O QUE ESTÁ FAZENDO, SERINA!? ISSO NÃO É UMA CRIANÇA, MUITO MENOS UM MOMENIANO! - Gritou Daichi enquanto agarrava o braço de Serina, a puxando para longe dali.

- Daichi?! O que deu em você?

Naquele momento, os olhos do velho waruiano se esbugalharam, seu corpo começou a estremecer, veias começaram a surgir na sua cabeça.


- Mais um? Mais um desgraçado que é imune às minhas magias? Isso é imperdoável! IMPERDOÁVEL!  - Falava o velho waruiano enquanto se levantava vagarosamente, revelando ser o dobro do tamanho de Daichi.

- Vamos, Serina! Temos que sair daqui! - Disse Daichi puxando-a para a direção oposta do waruiano. 

- ESPEREM! VOCÊS NÃO PODEM IR POR AI...! - Disse o velho waruiano que, enquanto se levantava, acabou dando um jeito em sua coluna. A dor intensa fez o velho gemer de dor, o que o fez ficar ali parado por alguns segundos.


Serina e Daichi corriam floresta adentro, sem ao menos seguir uma trilha. Serina não tinha ideia do que estava acontecendo, para ela, o velho que ali estava não passava de uma criança momeniana inocente. Foi quando se ouviu uma badalada de um sino e uma das arvores em que estavam passando por perto estourou, voando pedaços de madeira para todo o lado. Ambos caíram no chão com o impacto.


Serina virou a cabeça desesperadamente para ver se a criança estava bem, mas no lugar delas apenas viu uma criatura velha, que apontava seu cajado em direção a ela. A momeniana então gritou de pavor, o grito foi tão alto que ecoou por toda a floresta e acabou assustando o waruiano, que começou a balançar o seu cajado, estourando as arvóres que estavam em sua volta.


Enquanto isso, Archibald estava próximo à entrada do vilarejo, observando a escuridão da floresta no qual seu amigo havia adentrado. Se perguntava se Daichi havia tomado a escolha certa, e foi quando Fermo chegou suado e ofegante.


- Prefeito! Prefeito! Estão dizendo que o pai da Junko foi embora do vilarejo, é verdade? - Dizia o jovem padeiro, preocupado.


Archibald, que estava um pouco bêbado, coçou sua barba – Bom, ele foi fazer umas coisas, talvez não volte tão cedo... 

- Mas logo a esta hora da noite? Deveria ter ido de manhã...

- Sim, você tem razão. Alias, você já deveria estar na cama, não é hora de um garoto estar zanzando por aí!  Ainda mais com...


Archibald foi interrompido por gritos e barulho de explosões vindo da floresta.




- ... Uma guerra acontecendo... - Completou o prefeito olhando em direção à floresta, onde se pode ouvir mais gritos - Rápido Fermo! Vá chamar os guardas! 

Os guardas rapidamente entraram em formação, Archibald pegou uma das armas e adentrou a floresta junto com uma dúzia de guardas.


Andaram pela floresta obscura, alguns guardas estavam suando de medo, outros ainda estavam bêbados da festança. Não demoram muito para chegarem no local. Se depararam com Daichi caído no chão com um grande ferimento, uma estaca de madeira presa em seu peito, enquanto Serina tentava ajudá-lo.


- Daichi! Serina! O que aconteceu? - Disse o Prefeito, preocupado, enquanto analisava o ferimento de Daichi.


- Eu não sei! Eu estava brincando com uma criança e de repente o Daichi apareceu e... - Dizia Serina desesperada.


- Ei... EI, TEM ALGO ESTRANHO AQUI! - Disse um dos guardas enquanto falava do velho waruiano que estava caído no chão.


- Um waruiano, apareceu um waruiano - Disse Daichi enquanto arrancava o pedaço de madeira fincado em seu peito com as próprias mãos e rangia os dentes de dor - Parece que ele se descontrolou com o seu grito Serina...


- Daichi, não seja tão imprudente! - Disse Serina estancando a ferida em seu peito com as mãos.


Daichi pediu para que Archibald pegasse algo dentro de sua bolsa, era um cubo do tamanho de uma maçã - Pra que serve isso? - Perguntou o prefeito, curioso.


- A CRIATURA ESTÁ SE MEXENDO! ELA AINDA ESTÁ VIVA! - Gritou um dos guardas.


- Acabem com este waruiano! Rápido! - Ordenou o prefeito.


Os guardas, apreensivos, apontaram suas armas para a criatura que estava caída no chão, e estavam prestes a disparar contra elas, quando um vulto passou cortando seus todos de uma vez só em linha reta. Os guardas caíram no chão desacordados.



- Qual foi o problema, Boboro? Não consegue capturar nenhum refém? Capitão idiota - Disse o Tenente Ruben chutando a cabeça de Boboro, fazendo-o acordar.


- QUÊ!? COMO!? RUBEN!? Como vai você? Eu dei um jeito na minha coluna, poderia fazer uma massagem neste pobre velho ? - Disse o velho waruiano, que era levantado com a ajuda de Ruben, que se mantinha calado.


Quando Archibald ia apontar sua arma para os waruianos, Boboro moveu seu cajado dando uma badalada com o sino, fazendo com que a arma se tornasse confete, se esvaziando das mãos do prefeito.


Estavam apavorados, a cada segundo soldados waruianos começavam a aparecer pela floresta, era um exercito fortemente armado, que abriam espaço para um waruiano, grande e forte que carregava uma clava nas costas.


- O-O que vocês querem!? Não te-temos nada a oferecer! Por acaso você é o líder deles? - Disse Archibald tremendo de medo ao ver a presença do waruiano de clava de ferro.


- Me chamo Larval, 1º Capitão da divisão de Outono, e quem me dera fosse o líder... - Disse Larval se virando e se curvando perante a uma criança waruiana, junto a todo o exército - Este é o General Striker, Líder da Divisão de Outono - Completou Larval se ajoelhando, enquanto Boboro tentava se curvar e uma de suas colunas dava um mal jeito.




" Uma criança sendo um general!? Ele deve ter a mesma idade da Junko! " - Pensou Daichi impressionado.

Striker tinha a mesma altura de uma criança de aproximadamente 8 anos, usava um sobretudo vermelho que cobria todo seu corpo. Seus olhos eram da cor das folhas de outono, demostravam desprezo ao olhar para os momenianos. E a sua presença emanava uma pressão atmosférica.


- Boboro, era pra você fazer uma refém... - Disse Striker com raiva.


Boboro engoliu seco - Bom, estava ocorrendo tudo bem até aquele com um suéter aparecer e estragar tudo! Ele era imune as minha magias!


- É porque você não o matou?


- O-O se-senhor falou sem mortes! 


- Mudei de ideia - Disse Striker avançando contra Daichi com um pulo. Estava prestes a fincar seu punho cara do cientista quando uma barreira azulada surgiu, protegendo-o.




Striker ficou sem entender o que era aquilo e recuou - O que é isto? Você é algum mago? - Disse o general curioso.

- Isto não é magia. Eu a chamo de Parede Quintética, um campo de força que não é capaz de atravessar nada, nem mesmo o ar... - Disse Daichi com o cubo em sua mão.

Daichi então colocou sua mão para fora do campo de força e puxou Serina e Archibald para dentro dele -  Mas não quer dizer que eu não possa puxar algo pra dentro, como algum ser vivo, objeto, ou até mesmo o ar - Completou o cientista.

- Você que fez? Interessante... Vamos ver se é resistente mesmo - Disse Striker levantando seu braço pra cima, de uma hora pra outra seu braço se tornou monstruosamente imenso e musculoso, tanto que o garoto mal conseguia aguentar o próprio peso do braço.


Os soldados waruianos pareciam nunca terem visto aquela forma antes, até mesmo Larval e Boboro ficaram impressionados com a habilidade do seu general.



Striker jogou sua mão em cima da esfera e começou a pressioná-la com toda sua força, veias de seu gigantesco braço saltavam, mas nada acontecia com a Parede Quintética, até que ela começou a transbordar entre os dedos do General, como se estivesse apertando uma bexiga de ar.


Striker sorria, estava mais feliz do que nunca, até que parou de apertar e seu braço voltou ao normal - É a primeira vez que uso toda minha força em algo, e ela ainda consegue ser mais forte do que eu... Impressionante - Disse o General sorrindo loucamente. 


- Por um momento achei que a barreira iria se desfazer... - Disse Archibald, aliviado.

- Parabéns, Boboro, encontrou algo melhor do que uma refém, achou um trunfo para nossa guerra - Disse Striker - Vamos logo de suéter, venha para aeronave. 

- O QUE?! VOCÊ ACHA QUE ELE VAI COM VOCÊS?! - Gritou Serina furiosa - ELE NÃO FARIA ISSO, NUNCA!!

Striker continuou rindo - Hoje foi um dia muito divertido... Então quer dizer que ele não vai vir mesmo se eu matar todos daquele vilarejo? 

- Você não vai conseguir passar por lá, e digo isso como prefeito de Kittypaw! Fizemos uma muralha muito bem fortificada! - Disse Archibald.

- Blá blá blá, se eu quisesse jogava aquela muralha para o espaço só com um peteleco - Disse o general, se sentando em frente a Daichi - E então suéter? Vai deixar os seus amigos morrerem? Não tem ninguém que valha a pena lá?

Daichi ficou calado, sabia da força imensurável do waruiano que quase fez seu campo de força se destruir, não sabia mais o que valia a pena salvar. 


" O destino do planeta ou a minha filha? O que é mais importante para mim ? "  - Pensava o cientista, sabia que, acima de tudo, o correto seria o destino do planeta.


- Desculpem... Vocês vão me odiar por isso... - Disse Daichi desligando o campo de força - Eu meio que tentei não criar laços com ela, pois saberia que algo assim aconteceria, mas acabei sendo fraco... - Completou Daichi segurando o choro.



Serina e Archibald não ficaram surpresos com a decisão de Daichi, pois a única coisa que os preocupavam é que agora ele seria inimigo de Momenom.


- Sábia escolha, suéter! O algemem e levem esses guardas feridos, e a moça também, assim ele vai pensar duas vezes antes de querer fazer alguma bobagem - Disse Striker se retirando do lugar junto a Daichi.


Serina começou a se debater quando os soldados a pegaram, Archibald foi tentar fazer algo mas Larval o derrubou no chão com um simples empurrão - Não podem levá-los! Eles têm filhos pequenos! - Dizia Archibald caído no chão.


- E daí? Perdi meu pai quando nem havia nascido! E vocês tem sorte de eu estar de bom humor - Disse Striker olhando o prefeito - Larval, esta área fica sobre seu comando - Completou o General.


- O QUÊ?! EU QUE QUERIA ESTA ÁREA! - Gritou Bororo, irritado e ainda com dor na coluna - Ah tanto faz, tem outras muito melhores... - Completou Bororo mais calmo e se retirando junto com o general e o restante do exército.


Larval se aproximou do prefeito e o agarrou pela sua roupa, erguendo-o no ar - Escute aqui, prefeito, as coisas vão ser do meu jeito agora! - Disse Larval enquanto aproximava a clava próxima ao rosto do prefeito.


A única coisa que Archibald conseguia fazer era ficar com medo e rezar para que não fosse morto - Quero que todo mês me traga ao menos cinco momenianos do seu vilarejo, e cem mil nixels, está entendendo? -


- S-Sim! Mas o que vai fazer com os momenianos? Irá matá-los? - Dizia o prefeito temendo pela resposta.


- Isso não lhe interessa - Disse Larval, jogando-o no chão com brutalidade - Caso tente fazer algo, considere essa cidadezinha excluída do mapa junto com você, prefeito - Disse Larval, se retirando do local.




Archibald ficou lá, no meio floresta, observando seu amigo cientista sendo levado, e que agora estava em um dilema. Foi então que viu um pão em meio aos arbustos.


- Fe... Fermo!? - Disse Archibald baixinho, e então o pão desapareceu entre os arbustos.


O prefeito correu atrás do jovem padeiro, até que o encontrou encostado a uma árvore, soluçando aos choros - O pai da Junko salvou o vilarejo... Ele se sacrificou pela gente... e muita gente não ia com a cara dele - Dizia Fermo aos soluços, enquanto chorava.


- Você viu tudo, droga. Eu te disse para ir pra casa dormir! - Disse Archibald nervoso. 


- Desculpa... - Dizia Fermo em meio ao choro.


- Escute, não diga isso a ninguém, será o nosso segredo, entendeu?


- Mas e a Junko? O pai dela fez isso por ela! E ela achava que o pai dela não a amava, tem prova de amor maior do que esta prefeito?! Tem?! - Dizia o padeiro, voltando a chorar.


- Eu sei... Eu sei... E por isso mesmo que não podemos falar sobre isso...



Já era de manhã quando Dub estava voando sobre a cabeça de Junko...

- Bom dia Dub, bom dia pai... - Disse Junko se levantando, sonolenta e com o cabelo todo bagunçado.


- Bom dia Mestra Junko! Dub! Dub! Seu pai não está aqui... Você está feliz hoje? - Dizia Dub enquanto preparava o café da manhã.


- Não sei, eu não estou com fome, não precisa fazer para mim Dub - Disse Junko enquanto se levantava.


- Dub! Dub! Vou fazer apenas para o Fermo! Dub! Dub!


- Fermo? - Junko olhou mais pra frente e se deparou com Fermo sentado, agarrando os joelhos, sua cara estava pálida e seus olhos, inchados de choro - Você voltou a brigar com seu pai, Fermo? - Disse Junko preocupada com seu amigo.




- Não... Junko... Seu pai... - Dizia Fermo, tremendo.

- Meu pai? O que tem meu pai?


- Ele foi embora... Ele, Serina, os pais do Lombert, os da Maisha e Gaisha, os de Tessy...


- Foi a Guarda Real? - Perguntou Junko, pálida.


- Não...


- Ainda bem... - Disse ela, colocando as mãos no coração, aliviada - Bem, depois eles voltam, devem ter ido fazer algo importante, não é?


- Eles não vão voltar...


- Hã?


- Eles não vão voltar, Junko, eles foram embora pra sempre...


- Mas por que ele não me chamou pra ir junto? - Disse Junko quase chorando - Ele não gosta da minha presença, é isso?!


- Não é isso, você é filha dele, lógico que ele gosta! - Gritou Fermo. 


- GOSTA NADA! ELE ME ODEIA! ELE SEMPRE ME ODIOU! ELE ME ODEIA QUE NEM SEU PAI TE ODEIA POR GOSTAR DE MENINOS, FERMO! - Gritava Junko enquanto chorava de raiva.


- MEU PAI GOSTA DE MIM! PARA DE FALAR ISSO! ELE ME BATE PORQUE ELE NÃO ME ENTENDE!


- VAI EMBORA! QUERO FICAR SOZINHA! SUMA! NUNCA MAIS VOLTE AQUI! - Disse Junko jogando pedaços de pão com geleia na cabeça de Fermo.


- AHH! VOCÊ SUJOU MEU CABELO!! AGORA SOU EU QUE NÃO QUERO TE VER MAIS! SUA BRUXA FEIA!! - Disse Fermo saindo correndo do laboratório com o cabelo sujo e chorando.


Junko se sentou no chão e começou a chorar de raiva - Eu odeio... odeio... eu odeio meu pai... odeio minha mãe... eu odeio todo mundo... 


- Dub! Dub! Mestra Junko, você me odeia? - Disse Dub, que foi respondido com um olhar de ódio.  


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