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Capítulo 23 - A história obscura do Paraíso Kittypaw (Parte 4)



Ainda era de manhã na cidade de Kittypaw. Muitos dos habitantes ainda se recuperavam da festança da noite passada, outros ainda continuavam dormindo sobre mesas e galhos de árvores. Foi então que Archibald apareceu segurando um megafone nas mãos.

- Povo de Kittypaw! Eu agradeço a todos vocês pela colaboração na construção dessas muralhas! - Falou o prefeito, acordando o restante dos habitantes.

Gritos de alegria se espalharam pela cidade com a declaração do prefeito, e então ele continuou: - Devido à segurança da cidade ter aumentado, é inevitável que o custo pela sua segurança tendesse a aumentar. Então, a partir de hoje, estabelecerei algumas doutrinas a serem seguidas.


Archibald esclareceu todas as regras a serem seguidas. As regras eram claras, o prefeito sugaria o dinheiro do povo e se alguém tentasse contrariá-lo, o cidadão seria preso. Até mesmo os que viessem de fora da cidade deveriam pagar uma taxa de entrada. A população não gostou nem um pouco da declaração do prefeito. Começaram a xingá-lo de usurpador do poder e de qualquer outro xingamento que lhes vinha à cabeça. Stella e Massamir estavam próximo dali.

- Mas o que deu no Archibald? Como ele pode fazer algo assim? - Dizia Stella.

- Não se preocupe querida, Archibald é uma boa pessoa, ele não planeja nada ruim. Só tenho que me dedicar mais na padaria agora - Respondeu Massamir.

Estavam quase indo embora quando se depararam com Lombert aos choros:
- Srtª Stella! Meu papai foi embora! Meu papai foi embora! - Falava a criança enquanto soluçava aos choros.

- Como assim foi embora? - Disse Massamir preocupado.

- O Fermo me disse! Não foi só o meu pai, os pais da Junko, Tessy, Maisha, Gaisha, e até mesmo a mãe da Anubia.

- COMO É? AQUELE MOLEQUE VAI VER SÓ POR FICAR FALANDO MENTIRAS! - Gritou Massamir furioso, indo em direção à padaria.

- Deus, esse homem implica tanto com o nosso filho... - Disse Stella enquanto pegava Lombert no colo.

Massamir não demorou muito até chegar à padaria e se deparar com Fermo, que estava preparando as fornalhas de pães. O pai chegou e começou a puxar o braço do seu filho violentamente.

- Que mentira é essa que você está falando sobre o pai do Lombert e os outros? - Dizia Massamir enquanto se preparava para dar um tapa no garoto.

- Não é mentira pai, eu vi com meus próprios olhos! Archibald está de prova! - Dizia Fermo enquanto tentava se defender colocando a mão em frente ao seu rosto.


- Mas... Isso não faz sentido! - Falou Massamir, soltando o braço de Fermo. - Por que eles iriam embora assim?

Fermo percebeu que seu pai estava menos agressivo.

- Pai, Archibald me convidou para ser um soldado - Disse o garoto, apreensivo.

O padeiro se virou lentamente e fixou o olhar no seu filho - E o que você vai fazer? Vai virar um soldado?

- S-sim, o senhor vai tentar me impedir?

- Você tem que ver com sua mãe. Se ela aprovar, vou ter que contratar alguém para me ajudar na padaria - Dizia Massamir, rindo.

 - Não precisa se preocupar com isso pai, eu tenho um amigo chamado Subo, ele é bem forte, vai poder carregar os sacos de farinha para o senhor! - Dizia Fermo, contente.

Os dias foram passando, a população foi pagando como era ordenado, e aqueles que não tinham como pagar eram aprisionados, para serem mandados para fora de Kittypaw. Mas apenas Archibald e Fermo sabiam da verdade por trás de tudo isso.

Com o custo aumentado para se viver em Kittypaw, ninguém se candidatou para cuidar das crianças que haviam sido "deixadas" pelos pais. Foi então que Stella, com um ato de bondade, decidiu acolhê-los, com exceção de Junko.

Archibald decidiu tomar conta de Junko, assim como Daichi desejava. Foi então que ele se lembrou do que seu velho amigo havia lhe dito antes de atravessar as muralhas de Kittypaw.


“Archibald, se as coisas parecerem feias, olhe os quadros do laboratório."

Junko passava a maior parte do tempo no laboratório com Dub. Dedicava seu tempo com pesquisas deixadas pelo seu pai. Ficava lendo anotações escritas pelo seu pai por horas e horas, a fim de melhorar as suas habilidades na robótica. Mas a verdade era que isso tudo não passava de uma distração para seu coração ferido. E foi quando, de repente, Archibald apareceu pela porta. 
Eufórico, começou a gritar:

 - QUADROS! QUADROS! QUADROS!

Junko, com medo, se escondeu junto com Dub. O prefeito então começou a derrubar os quadros que havia no laboratório, até que em um deles havia um caderno de capa azul com a sigla " Defensor XYZ".


Tanto Junko como Archibald ficaram se perguntando o que diabos era aquilo.

E foi então que um mês se passou.

Archibald estava se preparando para dormir, quando ouviu algo estranho em sua janela, que aparentemente estava aberta. Era um som de pano sendo esfregado em algum material liso. 

Receoso, pegou sua pistola. Aproximou-se lentamente da janela, quando se deparou com Larval. Estava com uma mochila, sentado na beirada da janela, observando a pequena cidade de Kittypaw enquanto limpava sua clava, que estava repleta de sangue.

O prefeito não tinha ideia de como ele tinha atravessado a muralha, foi então que o silêncio foi quebrado.



- Tanto trabalho pra nada... - Disse o Larval entrando no quarto de Archibald. Seu rosto estava sujo de sangue, assim como suas vestes. - É melhor você não tentar fazer nada, velhote – Continuou o Larval, agora pegando na ponta da pistola com os dedos e a entortando facilmente.

- E-eu fiz como me pediu! Por favor, não nos ataque! - Dizia Archibald tremendo.

- Isso é bom - Disse o waruiano, jogando a mochila no chão. - Aí dentro tem o que você precisa, agora o dinheiro... 

O prefeito rapidamente correu em direção ao cofre e pegou a bolsa com 100 mil nixels, entregando-a para o waruiano.

- Te vejo amanhã de manhã...- Completou, indo em direção a janela e dando um salto tão longo que foi pra fora da cidade.

" Agora entendi como ele chegou até aqui...” - Pensou o prefeito.

Começou a revirar a mochila deixada pelo waruiano. Nela, havia um aparelho comunicador e, fora isso, coordenadas. Tudo indicava ser o lugar para onde levar os cinco momenianos...

Logo de manhã, Archibald não havia dormido, suas doutrinas estavam sendo despedaçadas pouco a pouco pelas ações dos waruianos.

Selecionou uma equipe de soldados mais confiável para então levarem os cinco prisioneiros até o local que lhe foi ordenado.

- Quando vocês chegarem no local, joguem-nos na floresta e sigam até Tailwhiskers o mais rápido que puderem. Comprem o máximo de munição que encontrarem e voltem o quanto antes - Ordenou o prefeito, apreensivo.

Quando a carruagem ia em direção aos portões de Kittypaw, um aglomerado de curiosos fixava seus olhos, preocupados que o mesmo poderia acontecer com eles.

Na mesma tarde daquele dia, a carruagem voltou. Trazia consigo uma quantidade mediana de armamentos, o que fez a população não parecer muito contente. E então comentários começaram a surgir.


" Armamentos? Ele quer nos comandar pelo poder!"
" Archibald é um monstro! " 
" Como pode uma coisa dessas! Kittypaw sempre foi uma cidade acolhedora!" 
" Esperava mais do prefeito..."
" Por que diabos ele quer tanto o nosso dinheiro? " 
" Ninguém enxerga que Archibald está virando um demônio?"
" Aposto que foi ele que matou Daichi, Serina e os outros! "



Contudo, Massamir sempre contornava a situação, buscando proteger seu velho amigo Archibald a todo o custo. O que deixava a população menos agressiva para a tomada de decisões precipitadas.


Naquela noite, Archibald estava apreensivo na cama quando o aparelho comunicador que Larval havia o dado começou a tocar. Correu para atender.

- A-Alô?

- Velhote, pensei que você não ia conseguir fazer essas coisas, você é mesmo um monstro! - Dizia Larval do outro lado da linha, rindo.

- Faço o que for preciso pra segurança de todos...

- Isso é bom, vou querer 110 mil nixels neste mês.

- O QUÊ!? 110 MIL?!

- Ei, não grita! Tá de noite!

- O combinada era 100 mil...

- Combinado? Você acha que combinamos tudo isso? Não me faça rir velhote, agora vou querer 150 mil - Disse Larval desligando.

E assim seguiu a vida de Archibald, todo mês os impostos aumentavam, até que 5 anos se passaram. Kittypaw passou a ser chamada de Paraíso Kittypaw, pela grande riqueza que comerciantes faziam, mas nem todos estavam indo bem. Era de noite e Massamir preparava a fornalha de pães, quando o seu filho tentou convencê-lo:

- Pai, o senhor precisa de dinheiro - Dizia Fermo, vestido como soldado, enquanto lhe entregava um envelope cheio de dinheiro.

- Muito engraçado isso, Fermo, agora me deixe trabalhar - Disse Massamir, ignorando o envelope do filho.

- Querido, por favor, aceite - Dizia Stella.

- Não vou precisar disso, vou conseguir o dinheiro - Dizia Massamir com a cara fechada, enquanto todos na padaria cochichavam.


" Esse aí não era o que defendia o Archibald? " 
" Coitado, vai ser expulso do Paraíso Kittypaw " 
" Se não fosse os órfãos, eles não estariam em apuros "

- PAI, ACEITE O DINHEIRO! - Gritou Fermo.

Massamir, tomado pela fúria, pegou o envelope e rasgou ao meio, junto com o dinheiro.


- EU NÃO QUERO DINHEIRO DE UM VIADINHO COMO VOCÊ, FERMO! VÁ EMBORA DAQUI! - Gritou Massamir empurrando seu filho pra fora da padaria.

- É SÓ POR CAUSA DISSO!? SÓ POR EU SER ASSIM QUE VOCÊ VAI JOGAR TUDO FORA!?!?! - Gritava Fermo para seu pai, enquanto era arrastado pra fora da padaria.

Stella e Subo tentavam conter a fúria do padeiro, e então ele começou a se debater. No meio desta confusão, acabou acertando um soco no rosto de Fermo, que caiu no chão.


- MASSAMIR! VEJA O QUE VOCÊ FEZ! - Gritou Stella para Massamir, que agora estava mais calmo.

- Fermo! Você está bem!? - Dizia Subo enquanto o levantava. Pingava sangue do nariz e da boca de Fermo, nunca em sua vida havia levado um soco no rosto antes.

- Pai... Desculpe... Mãe... Desculpe... Eu... Eu amo vocês - Disse o jovem soldado, que correu em direção ao castelo.

Todos ficaram parados, vendo Fermo desaparecer entre as ruas de Kittypaw. Massamir não parecia estar triste nem contente, mas aquele soco havia doido mais nele do que em Fermo. Quando se deu conta, Stella estava fazendo as malas e saindo da casa junto com os órfãos.

- Dona Stella, pra onde pretender ir? Se acalme, pense direito! - Dizia Subo, que era ignorado.

- Stella... Aonde você...? - Dizia Massamir, quando foi interrompido.

- Massamir, quando você atingir a maturidade, eu irei voltar para cá... Até lá, eu prefiro morar numa casa caindo aos pedaços do que com você - Disse Stella enquanto ia embora junto com os órfãos.

Naquela noite, Junko estava perto de terminar suas engenhocas, quando Fermo entrou no laboratório com o rosto inchado e com lágrimas nos olhos.

- Seu pai te bateu de novo? - Disse Junko, não se importando nem um pouco com a presença de Fermo ali.

- Junko... Você está agindo que nem seu pai... Você deveria sair desse laboratório, ele está a deixando doente! - Dizia Fermo, preocupado.

- O que você veio fazer aqui afinal ? Faz uns quatro ou cinco anos que não vejo essa sua cara feia e... 

Fermo então se aproximou de Junko e a abraçou fortemente - Eu vim pedir desculpas e te dar adeus... - Disse o momeniano.


Junko naquele momento ficou confusa.


- Adeus? Você vai pra algum lugar?

- Sim, acho que a gente não vai ser ver nunca mais, então vim me despedir da única amiga que eu tive em toda minha vida - Dizia Fermo coçando a cabeça.

Junko ficou quieta por algum tempo.


- Você ainda é gay, não é?

- LÓGICO QUE EU SOU! EU NÃO... EU NÃO ESTOU DANDO EM CIMA DE VOCÊ! DROGA! - Gritou furioso.

Junko apenas riu da cara e se desculpou por ter falado aquelas besteiras, e então Fermo continuou:


- Junko, eu quero que você me faça um favor, agora que eu estarei indo embora...

- Hum? Que tipo de favor?

Fermo se ajoelhou e abaixou a cabeça.


- Por favor, alimente os pobres de Kittypaw!

- Alimentar os pobres? Existem pobres nessa cidadezinha?

Fermo ficou quieto até que decidiu levantar a cabeça para quebrar o silêncio.


- Você ficou sozinha esse tempo todo?! Não saiu desse laboratório desde aquele dia não é mesmo? 

- Não tinha motivos para sair daqui. E, infelizmente, não fiquei sozinha o tempo todo - Disse Junko quando Dub apareceu todo sujo de graxa e com ferramentas nas mãos.

- DUB! DUB! O MENINO QUE TAVA CHORANDO! CRESCEU! DUB! DUB! DUB! - Dizia Dub enquanto voava eufórico pelo laboratório, quando foi acertado por uma chave-inglesa de Junko, e então se aquietou.

- Afinal, o que você ficou fazendo por cinco anos aqui? - Disse Fermo curioso

- Hunf! Estava esperando você me perguntar isso, o que vai ver é algo secreto que Archibald me mandou fazer - Dizia Junko, ansiosa, enquanto levava Fermo até a sala ao lado.

" Secreto? Archibald estava me escondendo isso ? - Pensava Fermo.

Foi então que Fermo olhou para aquela criatura metálica gigantesca, seus olhos se esbugalharam.


- Contemple, o Defensor XYZ! - Disse Junko, revelando o robô que estava sendo construído.

(Continua...)

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